O blended learning pode ser o caminho do futuro

O grande número de pessoas trabalhando e aprendendo remotamente durante a pandemia do COVID-19, mudará a maneira como trabalhamos e aprendemos para sempre. Isso é um fato. Entretanto, tenho lido muitos artigos que parecem ver a escolha do e-Learning como a salvação da pátria, como tudo ou nada; um futuro em que todo o aprendizado ocorrerá on line ou um retorno por atacado ao treinamento presencial.

Essa escolha não precisa ser necessariamente feita, apesar das descrições brilhantes de como o e-Learning aprimora a acessibilidade, reduz os custos de treinamento ou economiza tempo e dinheiro para as empresas, destacando os muitos benefícios de migrar treinamentos para o online. Tudo isso é verdade, mas também existem custos e processos. Considerar a mudança para o ensino online como uma questão única, ou no preto, ou no branco, perpetua os mitos sobre o e-Learning e potencialmente, pode prejudicar a aprendizagem. 

Na realidade, a recém-descoberta da proficiência do e-Learning e a apreciação por seus pontos benéficos, apontam para o real significado do futuro do aprendizado: uma mistura das abordagens, presencial e online, que atendam às necessidades de cada grupo específico de alunos. Ou seja, a personalização dos treinamentos.

Mito 1. O e-Learning é tudo ou nada

Transformar treinamentos para o digital oferece muitos benefícios. Contudo, mover todo o treinamento para o e-Learning pode não ser o melhor caminho. Implicar que é uma opção de escolha única é enganoso e potencialmente prejudicial. Não há razão para considerar um futuro em que, por exemplo, o ensino fundamental e o ensino médio sejam realizados totalmente online. A atual experiência mundial de ensino a distância pode muito bem significar apenas que mais oportunidades de e-Learning estão disponíveis, expandindo-as para os alunos em todos os lugares – mas isso não significa que todos os estudantes de todos os lugares devam renunciar aos benefícios do aprendizado junto aos colegas. Os treinamentos corporativos também se beneficiam das opções de e-Learning combinadas ao presenciais, repletas de interações com colegas e mentores.

Aprender e trabalhar juntos fomentam habilidades interpessoais mais difíceis de desenvolver e praticar online. A escolha de instruir online, pessoalmente ou em criar uma combinação, deve ser pensada para cada curso e situação, com base nos alunos e em suas circunstâncias.

Em vez de escolher um único caminho para todas as situações, a melhor opção é uma abordagem de aprendizado combinado. 

Combine as instruções dadas pessoalmente com a sala de aula virtual, ou as instruções dos seminários online com o e-Learning assíncrono. Misture os formatos de mídia e ofereça aos alunos mais opções de aprendizagem.

Mito 2. O e-Learning pode substituir todo o aprendizado presencial

O treinamento conduzido por instrutor virtual, como webinars ou sessões de sala de aula virtual, é certamente mais interativo que o e-learning assíncrono e oferece mais oportunidades para fazer perguntas e “conversar” com os demais alunos. Mas ainda sim, não é o mesmo que estar juntos em uma sala de aula.

Milhões de pessoas estão aprendendo a navegar em reuniões, cursos e interações sociais em plataformas de videoconferência como o Zoom. Mesmo quando você pode ver e conversar com outros participantes, é profundamente perceptível a diferença – e dependendo de alguns conteúdos de aprendizagem, a aprendizagem online é um mau substituto para as aulas presenciais.
Alguns tópicos se encaixam facilmente ao e-Learning; outros nem tanto. Alguns tipos de aprendizagem requerem prática. Para outros, discussões abertas e honestas são o suficiente.

Muitos tópicos são melhor aprendidos com uma aprendizagem combinada. Você pode, por exemplo, começar a aprender um novo idioma com um curso online, escolhendo um que permita praticar frases repetidas ou responder perguntas em voz alta. Mas, em algum momento, você precisará praticar conversando com outra pessoa que esteja familiarizada com o idioma que você está estudando. O mesmo vale para aprender a tocar um instrumento musical, dirigir um carro ou instalar televisão a cabo. Você pode praticar por conta própria, usar um simulador, aprender as etapas, mas, para dominar algumas habilidades, você precisará praticar na vida real, com um instrutor/mentor fornecendo feedback e orientação.

Mito 3. O e-Learning funciona para todos os alunos

Os alunos são indivíduos únicos com preferências variadas. Nem todo mundo tem temperamento ou autodisciplina para trabalhar produtivamente em casa – ou para aprender de forma assíncrona online. Crianças muito pequenas precisarão de mais instruções presenciais do que crianças mais velhas. Alunos de todas as idades variam em seu conhecimento técnico – e seu acesso a dispositivos móveis, internet confiável e outros elementos essenciais do aprendizado online. Alguns alunos com deficiência prosperam online porque a tecnologia os ajuda a superar barreiras que podem encontrar na sala de aula, enquanto outros são impedidos de participar por causa da falta de acesso à tecnologia.

Muitos alunos podem se dar bem com cursos online que entregam o mesmo conteúdo a todos os inscritos, ou podem facilmente encontrar o conteúdo de que precisam em uma biblioteca de conteúdo. No entanto, outros precisam de instrução especializada de um mentor, gerente ou professor de educação especial. Alguns alunos progridem bem ao aprender de forma independente e encontrarão maneiras de verificar e validar seu progresso; outros precisam de mais orientação, lembretes e supervisão. Os educadores e treinadores corporativos do aprendizado online devem considerar o material e os alunos, garantindo que nenhum aluno seja deixado para trás.

Mito 4. É fácil e barato aderir a instrução online

Muitas grandes empresas obtêm enormes economias de custos ao mover grandes quantidades de seus treinamentos para o online. E certamente existem plataformas que facilitam a conversão de decks de slides em cursos de e-Learning e distribuem de forma ampla a gravação de uma palestra, por exemplo. Porém, a conversão de materiais bons e instrutivos, projetados para o ensino presencial em aprendizado online, exige muito trabalho. O design instrucional do e-Learning assíncrono é um processo muito diferente da criação de planos de aula para um workshop presencial.

Além do Design Instrucional, a criação de um e-Learning eficaz e envolvente requer habilidades técnicas que estão fora da experiência de muitos professores e facilitadores de oficinas em sala de aula. Construir maneiras de fornecer feedback oportuno e relevante para os alunos apresenta obstáculos adicionais aos desafios presenciais.

Depois de criada, a distribuição do e-Learning a todos os funcionários de uma organização, onde quer que estejam, exige planejamento e tecnologia. Se os alunos precisam acessar uma plataforma de aprendizado, eles precisam saber como usar a plataforma, encontrar e se inscrever em cursos, além da navegação, precisam saber também como concluir e enviar exames, projetos e outros materiais de avaliação.

Como muitos educadores aprenderam na prática, promover um e-Learning eficaz é um desafio e deve exigir sim investimento financeiro.

Mito 5. Todo e-learning é igualmente eficaz

Há muitos e-Learning excelentes por aí. Infelizmente, também há muitos e-Learning ineficazes ou tediosos.

Criar um e-Learning eficaz, assim como a criação de instruções presenciais eficazes, requer um amplo planejamento e um profundo conhecimento do assunto e do processo de Design Instrucional, além de um entendimento das plataformas de aprendizado que você pretende usar.

Não basta preencher dezenas ou centenas de telas com informações factuais ou juntar um vídeo usando seu smartphone. O conteúdo de e-learning de alta qualidade precisa seguir aos princípios do Design Instrucional. Esteja você criando um curso de e-Learning, um vídeo, um micro-aprendizado, um jogo ou algum outro formato de aprendizado digital, você precisa:

  • Entender seu público-alvo, suas necessidades, seu conhecimento existente – e seu ambiente e acesso a computadores, tablets, internet, etc.
  • Definir objetivos claros, estipulando o que eles saberão ou poderão fazer após concluir o treinamento
  • Definir o que é o “sucesso” – explique como você avaliará o progresso deles e saberá se eles aprenderam e guardaram o conteúdo
  • Projetar e desenvolver seu e-Learning e depois testá-lo com alunos reais
  • Avaliar e melhorar seu curso usando o feedback de quem testou, acrescentando iterações para criar  um e-Learning cada vez mais eficaz e utilizável

As circunstâncias podem forçá-lo a buscar o retorno rápido – mas não presuma isso como o melhor que você pode fazer e não julgue todo o treinamento e-Learning por experiências anteriores ruins. Colocar o esforço necessário para desenvolver um e-Learning eficaz e interessante vale à pena se seus alunos puderam utilizar a aprendizagem para além da crise atual.

Respire fundo

É fácil ficar impressionado com a mudança repentina para o digitas que muitos de nós já estamos experimentando. Entender que não é um movimento único, do tipo tudo ou nada, pode ajudar na transição.

Algumas mudanças serão duradouras na maneira como todos aprendemos. Elas resultarão inevitavelmente no desligamento das escolas e locais de trabalho por um longo tempo, devido ao COVID-19. Mas, supor que a marcha para o e-Learning é uma jornada de mão única e que todo o aprendizado se tornará um e-Learning é um erro. Além de atender às necessidades imediatas, respire fundo e pense nas opções futuras e em como uma solução combinada pode oferecer a seus alunos o melhor das oportunidades de aprendizado, tanto online quanto presencialmente.

Esta é uma adaptação livre, de interpretação pessoal. Acesse o original aqui.